quarta-feira, 2 de junho de 2010

Craque no Independente


Leio com satisfação no Jornal de Limeira que o meia (que também atuou como segundo volante muitas vezes) Piá foi contratado pelo Independente. Foi a melhor aquisição do Galo nos últimos anos. Dir-se-ia que o ex-jogador de Santos e Corinthians é o Ronaldo da Segundona.

Vi muitos jogos de Piá. Principalmente no Santos. Também mantive uma relação de cordialidade por muitos anos dada a convivência no Jardim Nova Itália - o atleta é torcedor do Novinha, nosso time do bairro. Além disso, Piá morava na vizinhança, no Jardim São Paulo. Aprendi a conhecer o Piá com uma visão diferente de meus colegas da mídia.

Na foto, Piá - mais jovem - com amigos, entre eles Gian, que jogou no Vasco e serviu a Seleção Brasileira (o primeiro, à esquerda)
Pra maioria dos jornalistas, as informações quase sempre chegam via órgãos oficiais ou por meio de fofoca. Quando você acompanha o desenrolar das histórias in loco, aprende a refletir sobre as versões. Piá é, sem dúvida, um jogador polêmico. Muito mais por sua autenticidade do que por supostos deslizes contra a lei. O que ele devia, pagou. E deve ser respeitado também no âmbito da lei e do bom senso.

Há dois anos, fiz uma entrevista com Piá para o Jornal de Limeira. Foi um bate-papo muito legal, regado a samba e cerveja. Bem ao estilo dele. E ao meu.

Piá: bad boy ou sangue bom?

25/05/2008

Jogador fala sobre imprensa, times grandes e novo clube

Piá ganhou fama com o futebol. É o último jogador revelado pela Internacional de Limeira cuja técnica foi reconhecida por grandes clubes brasileiros. Meia-armador criativo e de passes precisos, acabou rotulado de bad boy primeiramente por gostar da boemia. Depois porque teve o nome verdadeiro - até então pouco conhecido - escrito nas fichas policiais por conta de problemas com pensão alimentícia e acusação de participação em um assassinato.
Aos 33 anos, Reginaldo Revelino Jandoso quase viu sua carreira acabar em um processo no qual era acusado de co-autoria em homicídio. Absolvido no mês passado, respirou aliviado. Mas não tanto a ponto de receber o repórter do Jornal de Limeira sem desconfiança.
A imprensa, para Piá, esqueceu os bons momentos que ele teve para se dedicar apenas a noticiar os problemas extracampo. "Não tenho só coisas ruins para ser divulgadas", diz serenamente segurando um copo de cerveja em um bar da 4ª Etapa do Parque Nossa Senhora das Dores. É neste boteco aconchegante - nomeado por ele como "Bar Vip", que ele recebe o Jornal de Limeira.

Piá está entretido com uma partida de truco. Interrompe o jogo momentaneamente para perguntar se o repórter quer beber alguma coisa. Coca-cola, guaraná, cerveja... Depois pede à dona do boteco que sirva uma cerveja. Ele retorna à mesa para terminar o jogo de truco e ficar, depois, sossegado para a entrevista.

A dona do bar diz que procurava um nome para o estabelecimento quando Piá deu a sugestão. Todos gostaram e ficou "Bar Vip". Ela é vice-presidente da Escola de Samba Nova Cidade. A agremiação desfilou no carnaval de rua de Limeira neste ano. E já está ensaiando para o ano que vem. O samba transpira no ambiente. O grupo Nova Malícia, convidado da tarde, toca partido alto e pagodes da moda.

Piá termina o truco, pega duas cadeiras e vai para a calçada. Ali, com o pagode ao fundo, transcorre a conversa. Ele não esconde que gosta de beber com os amigos. Não faz gênero, não se justifica. Só observa em silêncio tendo a testa franzida e a mão no copo.

Quando começou, nos juniores da Inter, em 1991, Piá era apenas mais um aspirante a camisa 10 de um time profissional. Oriundo de Leópolis, no Paraná, chegou a Limeira quando tinha seis anos de idade. Teve uma infância difícil, como a maioria dos garotos que tenta o sucesso no futebol.

Em 1996, no profissional da Inter, começou a caminhada rumo ao reconhecimento. Foi campeão matogrossense no Operário de Campo Grande, campeão mineiro no Cruzeiro e do Torneio Rio-São Paulo em 97, com o Santos.

NO SANTOS
A primeira venda ocorreu justamente para o Peixe que, com Piá no time titular, calou quase 30 mil torcedores que apostavam em Romário, Sávio e Cia. para vencer a partida no Maracanã. O 2 a 2 deu o título ao Santos e Piá estava sentindo o gostinho da consagração.
Mas aí vieram os desentendimentos com com o técnico Vanderlei Luxemburgo. "Ele não é chato. É um disciplinador", ressalta, meio reflexivo. "Não me arrependo de nada, mas se pudesse, faria muita coisa diferente do que fiz", emenda, logo após uma curta pausa.

A permanência no Santos ficou difícil e Piá foi vendido à Ponte Preta pelo maior valor já pago por um time do interior: US$ 1,5 milhão. A Macaca acolheu Piá bem. Ele ficou oito anos no clube e até hoje mantém amigos em Campinas, que visita constantemente. "Tenho um vínculo muito grande com a Ponte Preta. Foi o clube que eu mais gostei de trabalhar", declara.

O parceiro de todas as horas é o goleiro Lauro, ex-Ponte Preta, que marcou um gol de cabeça antológico contra o Flamengo no Campeonato Brasileiro de 2003, empatando a partida para a Macaca aos 52 minutos do segundo tempo.

Depois de quase uma década na Ponte, Piá é vendido ao Corinthians. Uma transação polêmica, bancada pelo gerente de futebol do Timão, o ex-jogador Roberto Rivellino. Quando Piá chegou, o Corinthians já andava mal das pernas financeiramente e dentro de campo. Trocou o técnico Juninho Fonseca por Oswaldo de Oliveira na esperança de um bom Campeonato Paulista, mas só conseguiu escapar do rebaixamento, graças ao São Paulo, que venceu o Juventus na última rodada.

O clima pesou para Rivellino quando ele declarou que Mustafá Contursi (presidente do Palmeiras) sabia administrar o Verdão melhor que os cartolas corintianos dirigiam o Corinthians. O ex-jogador foi fritado, deixou o time do Parque São Jorge e os jogadores que ele tinha trazido - entre eles, Piá - ficaram numa situação delicada. "O Citadini (Antonio Roque Citadini, braço direito do então presidente Alberto Dualib) atrapalhou bastante", diz Piá. "Se não fossem as divergências, teria sido melhor. Dentro de campo o trabalho estava sendo feito", afirma, elogiando o técnico Oswaldo de Oliveira, a quem classifica de "amigo particular". "Fui titular em todos os jogos".

Do Corinthians, Piá foi para a Portuguesa, onde disputou a Série B do Campeonato Brasileiro. Faltou pouco para a Lusa subir. Segundo ele, foram seis meses de bom futebol. Em seguida, foi contratado pelo Santa Cruz, time pelo qual foi campeão estadual em 2005 depois de um jejum de nove anos no Campeonato Pernambucano. Neste ano, o Santa Cruz também ascendeu à Série A do Campeonato Brasileiro.

SAMPAIO CORRÊA
Os problemas extracampo - processo por pensão alimentícia e porte ilegal de arma - atrapalharam a permanência de Piá no Santa Cruz e ele veio para o União São João de Araras, time pelo qual ele disputou o Campeonato Paulista de 2006 e parte de 2007, quando foi contratado pelo São Raimundo, de Manaus. Piá foi um dos artilheiros do time no Campeonato Brasileiro da Série B com oito gols, apesar de ser meia-armador. "Nem sei quantos gols marquei. Nunca me preocupei em anotar porque minha função dentro de campo é mais servir", explica Piá.

No mesmo ano, Piá voltou para o União São João de Araras e, logo em seguida, foi acertada sua transferência para o Ituano. Depois, foi contratado pelo Comercial de Ribeirão Preto e terminou o Campeonato Paulista de 2008 pelo Rio Preto.

Contratado semana passada pelo Sampaio Corrêa, o principal time do Maranhão, Piá vai disputar a Copa Maranhense e o Campeonato Brasileiro da Série C. A princípio, Piá jogaria a Série B pelo América do Rio Grande do Norte. Mas acabou acertando com o clube do Maranhão, onde trabalhará com um amigo seu, o técnico Celso Teixeira, que é de Campinas. "O Sampaio Corrêa cobriu a proposta do América", diz, sem revelar valores.

O jogador já está no Maranhão, onde foi destaque do jornal "O Estado do Maranhão" e do site oficial do Sampaio Corrêa, no qual foi chamado de craque. "Espero fazer um bom trabalho no novo clube. Mas estarei sempre ligado a Limeira, que eu adoro", comenta.
Piá, apesar da fama de boêmio, nunca deixou de treinar regularmente e está em forma. "Só preciso de ritmo de jogo", disse ao Jornal de Limeira, na semana passada. O atleta revelado pela Internacional de Limeira deve estrear após 15 dias. A julgar pelo tratamento da imprensa e torcida maranhense, a fama de bad boy ficou para trás. O que o Sampaio Corrêa vê, assim como os amigos, é um atleta de garra, um Piá sangue bom.

Pingue-pongue com Piá

Jornal de Limeira - Vai jogar no Sampaio Corrêa?
Piá - Está tudo acertado. Tenho um grande amigo lá, o Celso Teixeira, que é de Campinas.
JL - Você se arrepende de alguma coisa?
Piá - Não me arrependo de nada. Mas se eu pudesse mudar o passado, eu faria muita coisa diferente do que fiz.
JL - O que, por exemplo?
Piá - Gostaria de estar aqui quando o Pecos (ex-jogador da Inter) morreu. Era um grande amigo e fiquei muito sentido. Na época eu estava no Paok, da Grécia.
JL - De que cidade é o Paok?
Piá - É de Thessalomik, perto de Atenas.
JL - A temporada lá foi boa?
Piá - Eu fui numa época ruim. Fazia 15, 20 graus negativos. Muito frio. O verão lá que é maravilhoso. Tem as praias mais bonitas do mundo.
JL - Como você a situação da Inter e do Galo?
Piá - Fico muito triste. Falta apoio dos empresários. Já vi cidades menores com times mais estruturados.
JL - O que você acha de Limeira?
Piá - Adoro Limeira. Não consigo ficar longe daqui. Mas a cidade é muito pobre em opções para diversão.