A Internacional de Limeira precisa conquistar o acesso para a Série A3 do Campeonato Paulista. E continuar em ascensão vertiginosa, subindo com firmeza, buscando seu objetivo como um animal selvagem e faminto persegue a presa. A Segunda Divisão não é lugar para a Inter. Um time conhecido como Leão precisa sair dessa cilada. Pois se trata de um time cujo futebol encantou torcedores do Brasil inteiro, arregimentou títulos importantes e revelou grandes jogadores. Tem história, tem camisa, tem torcida. Mas no último domingo, sua legião de fãs não passou de um arremedo de torcida. Por quê? Afinal era um jogo decisivo, o Leão precisava ser estimulado para engolir o Taboão da Serra. A indiferença do torcedor, porém, é compreensível.
O jogo contra o Taboão da Serra deu-me a certeza de que o torcedor da Inter é realmente especial. É um torcedor inteligente, que gosta, acima de tudo, de bom futebol. Não é um seguidor de time acrítico, sem personalidade. É um torcedor que se acostumou a ver admiráveis escretes exibindo sua arte no gramado do Limeirão. Acostumou-se a vibrar com belas jogadas, com gols espetaculares. E também se acostumou a estar sempre entre os primeiros. Enfim, torcer para a Inter chega a ser um fardo quando a equipe está longe do topo, do lugar que merece. Ainda mais quando tanto tempo se passa e nada muda.
O torcedor da Inter é fiel, sim. Mas foi muito maltratado. Humilhado. Que pessoa apaixonada, vendo o objeto de adoração se desfigurar dia após dia não sente a alma apertada, os olhos marejados, os músculos definharem? Um torcedor acostumado a grandes conquistas é assim. Sente as pernas bambearem quando vê sua equipe ser ultrajada. Prefere se distanciar porque presenciar os retalhos de um time que cobriu de glórias toda uma cidade é muito dolorido.
Por isso, eu compreendo o torcedor que não compareceu ontem ao Limeirão. Mesmo que a equipe suplicasse o apoio de sua torcida como um filho desnorteado implora a ajuda do pai, compreende-se o orgulho que afasta os leoninos das exibições deste plantel. Futebol de Segunda Divisão é duro de digerir. É muito pra cabeça de um torcedor tão acostumado a grandes jogos.
Mas o torcedor da Inter precisa superar seus medos e se adaptar à nova realidade. Uma realidade cruel, de poucos toques refinados e de muitos momentos dramáticos. A Segunda Divisão é uma guerra. Os jogadores se esforçam, mas só a vontade não basta. É preciso que o torcedor volte a acreditar e incentive os atletas. Eu sei que é difícil, pois a qualidade técnica é diferente daquela que consagrou a Inter como um dos melhores times do Brasil na década de 80. Mas o amor tudo crê, tudo supera.
Este amor incondicional levou um grupo de torcedores ao Limeirão no domingo. E a galera que compareceu ao estádio foi premiada com a classificação para a próxima fase. Mas não nos enganemos: o jogo contra o Taboão da Serra foi sofrível. O primeiro lance de ataque deu a medida exata do que seria o jogo: o lateral-direito da Inter recebeu a bola, partiu pra linha de fundo e, na hora de cruzar, bicudou pra fora. Foi um chute tão bisonho que pensei em me levantar e ir embora assistir a um jogo do Campeonato Amador.
Entre os torcedores, não havia clima de festa. O clima era de apreensão. Mesmo assim, houve apoio do início ao fim. Impressionante. Eu perdi a paciência no segundo tempo. Vencendo por um a zero e dependendo de resultado, a Inter parecia sem forças. Num vacilo coletivo, permitiu o empate do medíocre time do Taboão da Serra. Mas os atletas da Inter se recuperaram. Conseguiram marcar o segundo gol logo em seguida, o que evitou que os nervos se descalibrassem. A classificação foi merecida. Ficou, porém, a certeza de que a Inter precisa subir. Precisa voltar a convidar o torcedor como se chamasse pessoas ilustres para um baile de gala. A Segunda Divisão é um castigo. Ninguém merece.
