sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crônica de uma escola muito louca

Vivemos uma época de engessamento da capacidade crítica dos professores.

Meu sobrinho estuda na terceira série. É um garoto muito inteligente. Ontem teve reunião de pais e mestres na escola onde ele estuda. A mãe não pôde ir, fui incumbido desta responsabilidade. Apesar de ser apenas um tio, levo a educação de meu sobrinho muito a sério. Sei como é difícil, principalmente quando se tem pouco dinheiro, manter-se firme na caminhada rumo ao curso superior. É preciso preparar o espírito desde a infância. Senão, inevitavelmente, o estudante que aspira ao diploma de faculdade vai pastar. Vai pastar muito.

Ao longo de minha jornada para ser educado conforme mandam os protocolos sociais, estudei em escolas medíocres. Tive muito professores abaixo da crítica. Obviamente, tive professores que honraram o guarda-pó. Mas a maioria era um desastre. Eu paguei o preço. Surgiram lacunas na minha educação. Quando chegou o momento de prestar vestibular, sem dinheiro para pagar cursinho, tive que estudar por conta própria. Eu já estava havia dois anos fora da escola. Trabalhava como prensista numa firma de retentores. Meu conhecimento estava em flagrante desequilíbrio.

Não vou ficar me alongando nessa história porque todo mundo tem seus dramas. Pau na máquina. Para chegar à faculdade foi um problema, manter-me nela foi outro. Mas eu adorava. Mesmo vivendo quatro anos numa pendura danada. O bom da coisa é que eu tinha uma pancada de amigo que torcia por mim. E, nos fins de semana, pagavam umas geladas com satisfação.

Fazer jornalismo foi uma coisa boa. Não pelo lado financeiro. Pelo lado humano. Quanto mais eu percebia o descalabro social neste país, mais eu sentia o sangue ferver. Aos poucos meu sangue virou suco. Mas isso é outro assunto.

O fato é que o jornalismo me abriu os olhos para questões muito sutis nos bastidores da organização social. De fato, atuar no jornalismo é uma opção ideológica. Ou você está do lado dos opressores, ou dos oprimidos. Simples assim.

Depois de tergiversar tanto, chego ao ponto principal da narrativa. Fui tomado de grande satisfação por participar da reunião. Me senti orgulhoso. Nada mais justo. Como sou, sem falsa modéstia, o maior responsável por meu sobrinho saber ler, escrever, navegar na internet, torcer para o Santos e gostar de rock, imaginei que minha presença fosse importante. Acho imprescindível que todos aqueles que participam do cotidiano de uma criança procurem estimulá-la a ampliar seus horizontes e se interessem pelo que ela aprende na escola. E eu me esforço nesse sentido.

Mas uma professora disse, quando eu já estava acomodado numa carteira, que só poderiam participar da reunião pais ou avós do estudante. Eu estava excluído. Só fiz uma observação, para não criar caso: “professora, perdoe minha ousadia, mas acho isso uma incoerência”. Ela respondeu, não sem certo constrangimento: “são ordens, não posso fazer nada”.

Sem dúvida professora. Ordens são ordens, mesmo que sejam absurdas.