sábado, 5 de junho de 2010

Mensagem para Dunga


Do blog do jornalista Alberto Helena Jr.


Direto de Johanesburgo – Os discursos de Dunga, nas entrevistas coletivas, estão ficando quase tão tediosos, por repetitivos e revanchistas, como o jogo da sua Seleção.

Não há pergunta de jornalista, a mais direta e técnica possível, em cuja resposta Dunga não dê uma volta para revidar com alguma observação espicaçando a imprensa esportiva brasileira.

Nesta quarta-feira, idem com batatas, durante os cerca de 40 minutos em que ele e Jorginho estiveram sobre o palco armado no salão do Randing Parke Golfe Club.

Jorginho, então, intempestivamente, passou a fazer uma exaltada peroração, que culminou com uma bravata: “Não estou generalizando, mas há quem vem aqui e não faz perguntas. Quero ver se esse tem coragem, agora de levantar a mão!”

São falas desmedidas, primárias, toscas, obviamente provocativas, opostas ao tom conciliador que a imensa maioria dos jornalistas que frequentam essas conferências desde o primeiro momento.

Como me disse o Milton Neves, depois da entrevista, Dunga até agora não falou das 31 seleções restantes. Até parece que o único adversário do Brasil na Copa é a imprensa brasileira. Aliás, por falar em Milton Neves, meu querido confrade, às vezes, exagera, mas não mente, como o slogan do fofoqueiro Rubens.

Eis que o Milton Neves me confidencia que, há algum tempo, numa champanhota, como diziam os antigos colunistas sociais, Dunga meteu a boca em mim. Coisas do tipo: esse Helena se acha mais inteligente do que todo mundo e tal e cousa e lousa e maripousa.

Ledo engano. Mesmo porque meus 160 de QI atestados pelos laboratórios da USP, quando ainda saindo da adolescência, depois de tantos anos queimando neurônios, já devem ter se reduzido à metade. De quase gênio, a quase imbecil.

Mas, toda vida me dediquei a aprender, a ler sobre tudo e especialmente procurar entender o futebol, sob todos os seus aspectos. E, sobretudo, ouvir os mais velhos, aqueles que tinham sido testemunhas de tempos anteriores aos meus.

Tenho, pois, seguramente mais tempo de estrada do que Dunga e Jorginho juntos. E muito, muito mais conhecimento sobre a história do futebol, a evolução dos sistemas táticos etc.

Privei do convívio com os mais hábeis e famosos treinadores brasileiros (alguns estrangeiros) de todos os tempos, desde Flávio Costa, Feola, Aymoré Moreira, Zezé Moreyra, Tim, Ênio Andrade, Oswaldo Brandão, Oto Glória, Rubens Minelli, Cláudio Coutinho, Telê Santana, Felipão, Parreira, Zagallo, até os atuais Luxemburgo, Muricy e outros tantos.

E, deles, colhi ensinamentos inestimáveis sobre os segredos do futebol. Vi mais treinos e jogos de Seleção Brasileira que nem Dunga, nem Jorginho podem imaginar.

Ora, como não tenho nenhuma antipatia pessoal contra ambos, apenas discordo veementemente de algumas de suas posições a respeito do futebol e da vida, sinto-me à vontade para mandar-lhes um recado de quem tem idade pra ser seu pai.

Parem com essa bobagem, essa infantil compulsão para a revanche.

Limitem-se a falar sobre futebol, que vocês conhecem porque estiveram lá, pois, quando saem fora desse roteiro, pisam na bola de forma inaceitável, pra quem tenha um pouco de conhecimento.

Abram as portas da concentração e da mente para novas ideias e o convívio ameno com seus compatriotas, já que esse nacionalismo vesgo faz parte da índole dos dois e até de boa parte da imprensa.

Vai ser melhor para todos, principalmente pra vocês.