sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cielo vence 50 m livre e conquista o ouro inédito


Quando César Cielo conquistou a medalha de bronze nos 100 m livre, na quarta-feira, e disse que iria trazer também a medalha de ouro, poucos acreditaram no que o nadador falava. Nesta sexta-feira, ele cumpriu a promessa. Com 21s30, a apenas dois centésimos do recorde mundial, o brasileiro quebrou novamente a marca olímpica da prova e conquistou o primeiro ouro do Brasil em Pequim.

Com a medalha de ouro dos 50 m livre, conquistada nesta noite (manhã de sábado em Pequim), ele se torna o primeiro brasileiro campeão olímpico da natação. Antes dele, as principais glórias nas piscinas eram de prata, duas com Gustavo Borges (100 m livre em Barcelona-1992 e 200 m livre em Atlanta-1996) e uma com Ricardo Prado (400 m medley em Los Angeles-1984).

Dois franceses completaram o pódio, Amaury Leveaux com 21s45 para levar a prata, e Alain Bernard, atual campeão olímpico dos 100 m livre, bronze com 21s49. Nas eliminatórias para a prova, Cielo já dava sinais de que poderia surpreender. No primeiro dia em que caiu na água para nadar a distância, ele quebrou o recorde olímpico, com 21s57 - a marca foi quebrada logo na seqüência por Leveaux, com 21s56.
Nas semifinais, ele voltou a abaixar o melhor tempo já nadado em piscinas olímpicas. Com 21s34, ele foi para a final com o melhor tempo entre os oito classificados.Nada mal para o garoto de Santa Bárbara do Oeste que tentou, antes da natação, ser judoca ou jogador de vôlei. "O problema do judô é que eu era muito mais alto que os meninos da minha idade, então me colocavam pra lutar com os mais velhos e eu levava muita porrada".
O vôlei foi uma escolha do pai, também César. Quem definiu a carreira do nadador, porém, foi a mãe, Flávia, que o levou para o Pinheiros em 2003.
Em São Paulo, ele passou a treinar com o nadador que, anos mais tarde, superaria: Gustavo Borges. "Fiquei quase dois anos treinando com ele e aprendi muita coisa. O Gustavo é muito atencioso e perfeccionista, e me ajudou a melhorar minha técnica", conta. Foi o veterano que levou o jovem nadador para Auburn, a universidade em que se consagrou como um dos maiores velocistas do circuito universitário norte-americano. E foi de Auburn que veio outra peça chave na conquista: o australiano Brett Hawke.
Técnico na universidade, ele se integrou à comissão técnica da equipe brasileira à pedido de Cielo, para manter o programa de treinos tão vitorioso que o brasileiro fazia nos EUA. Ex-nadador olímpico, Hawke foi sexto em Atenas-2004. "O que eu sempre digo a ele é que a melhor fase da minha carreira veio quando eu menos pensava nos meus adversários", lembra o técnico. Nos 100 m livre, em que nadou na raia oito, o conselho funcionou para o bronze. Nos 50 m livre, foi ainda mais longe: valeu ouro.

CONFIRA O PERFIL DO NADADOR

Brasil capenga no esporte e na imprensa




Cielo salva o Brasil.

O esforço dos atletas brasileiros deve ser reconhecido, sem dúvida.
Mas não há nada tão evidente quanto a discrepância técnica e tática com duas dezenas de países.
Sem falar na financeira.

Por que o tom ufanista predominou por tanto tempo? Alguns nomes decepcionaram, mas era sonhar alto demais imaginar que essa situação seria diferente. Basta prestar atenção nos dirigentes políticos e esportivos que temos.
Gostei da raça de Talita e Renata no vôlei de praia. E da determinação da natação brasileira, apesar das eliminações.
Surpreendeu o baixo rendimento do corredor Sandro Viana, nos 100 m. Na verdade, hoje foi um dia ruim para o atletismo brasileiro.
O judô, nesta Olimpíada, foi um fiasco.
E o futebol? Pra quem gosta deste esporte, até o momento as seleções masculina e feminina ficaram devendo. Hoje, a seleção de Marta e Cristiane fez um jogo desorganizado e arrogante em vários momentos. De onde vem tanta prepotência? Necessidade de auto-afirmação, talvez.

A imprensa, pragmática como uma máquina de moer carne, pouco inovou. Forneceu uma overdose de informações descartáveis. As que não eram descartáveis foram divulgadas como se divulga cotações da Bolsa de Valores. Por medo de errar ou parecer fútil (mesmo que esta seja a essência do jornalismo atual neste País que recrudesceu o uso do politicamente correto), os repórteres repetem chavões à exaustão.

E tem um problema grave, esta imprensa que exagera no louvor ou na execração: é umbiguista. Tem sérias dificuldades para se auto-analisar. Nem tanto do ponto de vista técnico, que cumpre o seu papel. O bicho pega na relação dos repórteres com o mundo e com a realidade das pessoas "comuns". Uma coisa distante, forçada, sem química.
Na verdade, um efeito macabro do jornalismo que prioriza o ritmo industrial em detrimento da reflexão.