domingo, 30 de maio de 2010

Pepe e Waldir Peres: craques da bola e da palavra


Ensaios da arte com chuteiras

Do Jornal de Limeira
Murilo Biagioli

Apaixonado, sonhador, devaneador. A definição romântica, aplicada ao futebol brasileiro na era Pelé, ícone maior de um estilo inigualável de jogo, era uma realidade que marcou gerações e hoje é usada como referência e comparação para se fugir do pragmatismo do futebol de resultados e de marcação. Não é por outro motivo que atualmente times como o Barcelona de Messi, Ibrahimovic e Thierry Henry, ou ainda o Santos de Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso, são contemplados e exaltados por torcedores de todo o mundo.

O segredo para a retomada do futebol arte, para o ex-ponteiro José Macia, o Pepe, e o ex-goleiro Waldir Peres, passam principalmente pela postura dos técnicos e pela qualidade técnica dos jogadores. Ambos marcaram época na Seleção Brasileira e estiveram no comando da Inter de Limeira em anos anteriores.

Embora façam uma análise saudosista do Brasil de 1958 a 1982, veem a seleção de Dunga como um bom time, com atletas talentosos, mas que esbarra na questão do futebol de força. Aliar isso com a inspiração aparece como o desafio dos times destes tempos modernos. Mesmo assim, Pepe e Waldir Peres não perdem o otimismo da possibilidade do sexto título mundial.

O INÍCIO

A Seleção de 1958, treinada por Vicente Feola e que tinha Didi, Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo - Pepe fazia parte do grupo, mas não pôde jogar por causa de uma contusão -, era um time extremamente ofensivo. "Em um só campeonato, teve dois gênios no mesmo time, Pelé e Garrincha. Eles eram esplêndidos. Quando a coisa apertava, a gente dava a bola para o Mané e o Pelé fazia o gol", relembra Pepe.

O esquema 4-4-2, desde aquela época, era o padrão das equipes, mas o diferencial foi a ideia de Feola, que colocou dois ponteiros. De um lado, Pepe, do outro, Garrincha. "Quando eu me contundi, entrou o Zagallo, que atuava um pouco mais recuado, mesmo assim o Brasil se adaptou ao 4-3-3", afirma o ex-jogador e técnico. Uma adaptação que se transformou em superioridade patente. "Na final, os suecos já entraram em campo nos olhando com admiração. Sabiam que seriam vice". O resultado foi 5 a 2 para o Brasil e o primeiro título mundial na casa do adversário.
O show brasileiro prosseguiu em 1962, com o bicampeonato. Pepe também estava na equipe, mas foi atrapalhado por uma nova lesão. Foi para a Copa, disputada no Chile, e novamente presenciou Mané, com seus dribles desconsertantes, se consagrar, seguido por Pelé, Vavá e companhia. Na final, 3 a 1 contra a Tchecoslováquia, de virada.

ARTISTAS DA VILA

Esse futebol arte era o mesmo do time da Vila Belmiro, que, segundo Pepe, atuava com seis atacantes. "A defesa ficava mais exposta e também era cobrada, embora fossem todos jogadores de Seleção". O Santos de 1962, campeão mundial contra o Benfica, jogava com Gilmar; Lima, Mauro, Dalmo e Calvet; Zito, Dorval, Megálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, uma escalação repetida a exaustão por torcedores, fanáticos ou não. "Na década de 60, marcávamos mais de 100 gols por ano, sempre", disse Pepe.
De acordo com o ex-ponteiro, esse futebol arte foi preponderante até 1974, quando Pelé anunciou que deixava o futebol.

"Para se priorizar o ataque, é preciso ter bons jogadores. O Guardiola [técnico do Barcelona], que foi meu jogador no Qatar, sempre gostou de dois ponteiros e no Barcelona também prioriza isso", declarou Pepe. Como Dunga sempre foi um atleta de marcação forte, carrega essa característica no selecionado brasileiro. "Mas temos bons atacantes, como o Luís Fabiano, o Nilmar e o Robinho. Só achei errado não levar o Ganso. Se futebol é momento, ele se mostra um jogador excepcional. Essa foi a grande falha do Dunga."

MARCAÇÃO X MARCAÇÃO

Outro detalhe atentado por Waldir Peres é que, apesar das características do treinador da Seleção Brasileira, o futebol hoje é de mais marcação. "O objetivo é não deixar jogar e há atletas específicos para essa função, por isso os Meninos da Vila, que vão contra a essa corrente, eram aclamados para a Seleção", afirmou.
O ex-goleiro torce pela equipe canarinho na Copa, mas não esconde as saudades de times como a Hungria de 1954, o próprio Brasil de 1970, a Holanda de 1974 e o seu Brasil de 1982, para ele o último selecionado que encantou com sua técnica e estilo de jogo, mas que foi prematuramente eliminado nas quartas de finais pela Itália, por 3 a 2. A seleção, além de Waldir Peres no gol, tinha jogadores como Júnior, Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. O técnico era Telê Santana. "Ninguém se recorda do time de 1994, que foi campeão mundial. É o futebol redondo, bonito, que fica marcado."




Nenhum comentário: