quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mulher na área







Torcida feminina engrossa o coro dos fanáticos na reta final do Brasileirão e mostra que entende de futebol



Fenômeno recente, porém avassalador, a participação das mulheres nas fileiras do futebol mexe com as estruturas tradicionais deste universo conhecidamente machista. Nunca uma revolução de costumes foi tão apreciada. Assim como acontece nos gramados, as mulheres começam a se organizar para não deixar passar a oportunidade de avançar em mais uma área antes predominantemente masculina: o bar.

"Gosto de estar na companhia de meus amigos, principalmente assistindo ao Tricolor num lugar legal", diz a estudante Karina Garcia Ferraz, 19 anos. "Mas o Santos é uma equipe que eu respeito", faz questão de ressaltar, já que o Peixe era o time do coração de seu pai, já falecido. "Bater papo com os amigos num barzinho bacana e ver o São Paulo jogar é uma forma muito prazerosa de acabar com estresse", argumenta.

Para este espaço sagrado da conversa fiada ser "invadido" pelas mais diferentes trupes femininas, os prédios precisaram agregar elementos estéticos aos serviços. A tela grande, a comida saborosa, as bebidas variadas e o ambiente de respeito e descontração já não bastam. Precisa ter um algo mais, sem que a atmosfera botequeira - a boa e velha cordialidade brasuca - seja suprimida. Quando se alcança o "algo mais" a mágica acontece.

Sim, elas são exigentes. Mas não reclamam com hostilidade. O máximo que fazem é pedir - com a delideza que lhes é peculiar - para o mané que enfiou a cabeça na frente da imagem deixe de atrapalhar a partida de futebol que está disputadíssima.

Nos bares frequentado por torcedoras, está explícita a maior vantagem de gritos estridentes superarem os sons guturais carregado de palavrões: o ambiente fica muito mais agradável. A harmonia entre a funcionalidade do local e a beleza das mulheres é uma arma de sedução para o comerciante que investe em bom atendimento aliado à tecnologia. "Não é fácil agradar gostos tão diferentes, mas o trabalho é recompensador. É impressionante como todas as torcidas dividem o espaço com bom humor e aprovam o serviço que é oferecido", comemora Rodrigo Malvezzi, 25, proprietário do V8, experimento comercial que ampliou o conceito de "barzinho" para "ponto de encontro para todas as tribos".

Localizado na Avenida Gumercindo Araújo, 212, perto do campus novo da Unicamp, o V8 virou reduto das torcedoras de Limeira e região. Em dias de clássico, o número de mulheres costuma superar o de homens. "A torcida corintiana é a maior", defende Mariana Vinhas, 25, que se intitula orgulhosamente como "corintiana roxa". "Gosto de ver o Ronaldo jogar e aqui dá pra ver muito bem", elogia Mariana, referindo-se ao fato de o V8 ter um telão fora do bar e uma TV de plasma atrás do balcão.

Nem só de Ronaldo vive a torcida corintiana. Para Clarissa Stephanei, 21, o Corinthians pratica um futebol muito agradável de se ver. "Presto bastante atenção", conta, sem tirar os olhos do jogo em que o Corinthians quase complicou a vida do Palmeiras, no último dia 1º. Assim como ela, outras torcedoras também procuram analisar todos os lances da partida.


ESTILOS VARIADOS
Torcida uniformizada predomina

Faltando poucas rodadas para o encerramento do Campeonato Brasileiro, os desfile de mulheres uniformizadas ganha corpo. Não há, porém, torcedoras mais agitadas do que as palmeirenses de são-paulinas. Karla Fernanda da Silva Queiroz, por exemplo, reivindica um Palmeiras com mais garra. "Eles se acomodaram um pouco. Estavam bem na frente em relaçãos aos outros times, agora todos os jogadores tem que mostrar vontade", analisa. Karla se considera uma palmeirense fanática - "desde quando nasci" -, e prevê o Verdão nas cabeças. "Seremos campeões", bradou, enquanto beijava o símbolo Alviverde da camisa.

Este é outro aspecto recorrente nos ajuntamentos de torcedoras. A maioria vai uniformizada. Produzidas, evidentemente - perfume, batom, esmalte e sei lá mais o quê. Mas também ostentando o manto sagrado do time pelo qual torcem. "Eu gosto de mostrar que sou corintiana. Desde os oito anos acompanho o Timão. Não é pouca história", orgulha-se Thaís Dorigan, 26 anos.

A amiga são-paulina não faz tanta questão de ostentar o escudo tricolor no peito. "Minha torcida é sincera com ou sem a camisa do clube. É isso que importa", discursa Bruna Braga, também de 26 anos.
Para a palmeirense Valéria Zonato, 43 anos, ser corintiana excede a questão puramente estética. "Não entendo muito de futebol, mas torcer para o Corinthians é um sentimento que vai além da aparência", comentou.

Também apaixonada pelo seu time, a são-paulina Mayara Areda, 17, diz que sofre um pouco com torcida contra das amigas Nathyele Galhardo, 15, corintiana; Eduarda Rodrigues, 16, corintiana e Letícia Cabrine, 16 anos. "Mas eu não abalo. Quando meu tricolor for campeão, quem vai falar mais serei eu".

A emoção das últimas rodadas do Brasileirão promete mobilizar ainda mais a torcida feminina. Nunca foi tão bom ver futebol pela televisão.

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