quinta-feira, 27 de novembro de 2008

As duas faces da Inter

Autor: Cristiano Kock Vitta

Dentro de campo, há técnico e time; fora, não existe sequer presidente

Há quase 20 dias, o técnico Cocada comanda a Internacional de Limeira dentro de campo. Trabalho duro que resultou na formação de uma equipe para estrear na Série A3. Foram eliminados cerca de 40 candidatos a jogador profissional do Leão. "É preciso olho clínico, experiência e paciência", explicou o ex-lateral do Guarani, Flamengo e Vasco.
No gramado, o chefe é o Cocada. Fora de campo, porém, ninguém comanda o clube. O empresário José Renato de Castro, que deveria ocupar a presidência, entregou uma carta de renúncia há duas semanas ao Conselho Deliberativo. Apesar de não ter sido votado - e, portanto, não ter liberado o atual presidente -, o documento segue no limbo burocrático do clube. Castro já declarou que não está mais à frente do clube. "Não sou presidente da Inter. Nem sei quem é", declarou ontem ao Jornal de Limeira.
O nome do presidente eleito, ele sabe. Trata-se do também empresário Renato Aparecido de Oliveira, de 37 anos. Ontem, Oliveira disse que só virá ao Limeirão quando tomar posse oficialmente. "Não vou ficar rodeando o clube", afirmou, tentando justificar por que motivo não aparece no clube há pelo menos 15 dias. "Não preciso ir lá. Tenho contatos que me informam de tudo o que está ocorrendo", disse ontem por telefone.
Alheio às disputas de bastidores, o técnico Cocada segue trabalhando. Por enquanto, sem remuneração. É que ele aceitou um acordo baseado no velho "fio de bigode" e assinará contrato somente após a posse do presidente eleito.
Se não fosse o ex-jogador do Flamengo e sua comissão técnica formada pelos irmãos, a Inter provavelmente não teria como começar a Série A3. Cocada e os irmãos fazem parte da Müller Sports, empresa com sede em Campo Grande (MS) e comandada pelo ex-jogador do São Paulo e da Seleção Brasileira Müller. "Ele acompanha a Inter indiretamente", revelou Cocada.O respaldo da Müller Sports permitirá que a diretoria apresente hoje, na Federação Paulista de Futebol (FPF), o plano para disputar a A3 - divisão para a qual a Inter foi rebaixada. Cocada declarou que pretende reverter esta fase. "Tenho certeza que vamos subir", disse. Para tanto, o técnico espera pela tabela que, provavelmente, será divulgada amanhã.
Se Cocada crê em evolução, o presidente eleito não é tão otimista assim. "A situação da Inter não é boa. As gestões anteriores deixaram um buraco", afirmou.A idéia é levantar fundos com o "Festival de Prêmios", que está sendo organizado para ocorrer no Limeirão. Já existe, porém, uma mobilização para garantir que o dinheiro arrecadado não "desapareça" como aconteceu em novembro do ano passado. Na ocasião, o então presidente interino, Acácio de Oliveira, foi acusado de ficar com os R$ 27 mil do evento que sorteia prêmios - que é uma espécie de bingo com nova roupagem. Desta vez, funcionários do Limeirão conseguiram receber o salário de outubro graças a um adiantamento proporcionado pela arrecadação que ainda virá. Os casos mais preocupantes são os de duas cozinheiras - Cláudia Aparecida Gonçalves e Iraci Otaviano de Moraes.
As duas são funcionárias da Inter, mas não têm garantias de que receberão o salário deste mês. É que para o lugar delas, o novo presidente chamou a mãe e o irmão e não as avisou. Ambas chegaram a cozinhar para 50 pessoas num único dia neste ano. Foi na época da peneira. "Trabalhávamos de segunda a segunda, sem folga. Se quiséssemos ter um dia de descanso, era preciso revezar", revelou Cláudia.Segundo o presidente eleito, a Inter não tem possibilidades de disputar a Séria A2 - como chegou a ser cogitado. Mesmo que haja desistências, Rogério de Oliveira disse que o orçamento é extremamente limitado. "Nós vamos disputar a Série A3. O resto é especulação", afirmou.

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